terça-feira, 28 de setembro de 2010

DEUS GOSTA DE POLÍTICA?

Por Zélia Vianna
zelia.vianna@yahoo.com.br


Já faz um bom tempo, um alto dirigente de nossa nação, irritado com a CNBB que teceu comentários sobre sua política econômica, declarou: "assim como não me meto nos dogmas da Igreja, a Igreja não deve se meter em política".

Infelizmente, muita gente que se declara cristã e católica faz coro com esse político quando, acreditando estar agindo com sabedoria, afirma que fé e polítca são incompatíveis e por isso não vai participar do processo eleitoral. Esquece-se que com essa atitude está participando ativamente da política - e o que é mais grave - beneficiando os maus políticos, pois quanto mais pessoas não se interessarem por participar da vida democrática do país, melhor será para os políticos corruptos.

Se Fé é adesão ao projeto de Jesus de vida e vida em plenitude para todos, e se Política é a arte do bem comum, então Fé e Política não são compatíveis. Se a Fé envolve o ser hmano (que não é apenas corpo nem somente alma, mas corpo e alma numa unidade substância), e se a Política é toda atividade que influencia no processo social, então Fé e Política se encontram juntas na vida das pessoas. Conclusão: a Fé cristã não despreza a Polítca, mas a valoriza e a vê como um caminho de santificação quando inspirada nos princípios do Evangelho. A Igreja tem tanta consciência de que Religião e Política não são realidades inconciliáveis, que entre os santos canonizados cerca de 400 exerceram cargos políticos.

Embora sem jamais ter aderido a qualquer partido de sua época, com seu modo de ser e de agir Jesus assumiu atitudes claramente políticas, na medida em que não foi indiferente aos males que atingiam o povo, em que tomou a defesa dos pequenos contra os grandes, em que criticou e dirigiu palavras duras contra os que não colocavam o poder a serviço do povo, em que pôs-se a favor dos menos favorecidos e de uma sociedade fundamentada no direito e na justiça.

Verdadeiro homem, e como todo ser humano alguém especialmente político, Jesus jamais se dobrou ante as autoridades e poderosos de seu tempo. Quando os fariseus se aproximaram dele e lhe disseram para ir embora porque aproximaram dele e lhe disseram para ir embora porque Herodes queria matá-Lo, sua resposta foi firme e contundente: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei meu trabalho" (Lc 13, 32). APilatos, que Lhe perguntou se Ele era Rei, não hesitou em responder: "Vós estais dizendo, sou rei" (Jo 18, 33-38). Sozinho e corajosamente, enfrentou o Sinédrio, órgão que funcionava como Banco do Estado, Casa de Câmbio, Tribunal Político, Criminal e Religioso e que, com testemunhas falsas manipulou o julgamento que terminou com Sua condenação à morte, por blasfêmia. O jeito de ser e de agir de Jesus deixa claro que Deus não gosta de politicagem, mas gosta de Política como a "arte, a ciência e a virtude do bem comum".

Fé e Política podem e devem andar juntas sim, porque embora não sejam iguais, elas se completam e Fé que não implica em compromisso social e "caridade política" não é a Fé cristã. O mandamento do "amai-vos uns aos outros" precisa sair da área do sentimentalismo e da relação apenas com Deus, e ir para a prática do compromisso com a transformação da sociedade, segundo os princípios do Evangelho eis porque o divórcio entre Fé e Política é talvez um dos mais graves pecados desse nosso tempo; eis porque votar em branco, anular o voto ou simplesmente não votar, não condiz com o jeito de ser e de amar de Jesus.

No próximo 3 de outubro, o poder sairá das mãos dos políticos e virá para as mãos do povo brasileiro. É o dia propício para, de maneira pacífica, legítima e consciente, mas também entusiasmada, vibrante e vigorosa, destiruitmos dos cargos aqueles que não os honraram, que dilapidaram nosso dinheiro, que não cumpriram as promessas feitas, que faltaram com o decoro e a Ética, que governaram não em nosso nome, mas em nome de seus interesses pessoais, que riram de nós, que zombaram de nossos sonhos e brincaram com nossas esperanças. 3 de outubro é dia de derrubar as muralhas da injustiça e vencer os gigantes da arrogância e da autosuficiência que teimam em pisar e oprimir os mais simples e pobres. 3 de outubro é dia de votar em quem tem Ficha Limpa, em quem está comprometido com a vida e vida para todos, da concepção à morte natural.

Para libertar-se da escravidão egípcia, os israelitas tiveram de enfrentar as vicissitudes do deserto e, mesmo quando a jornada parecia impossível, permaneceram firmes na busca da terra prometida por Deus a Abraão e à sua descendência: uma terra de fartura onde corria leite e mel. No próximo 3 de outubro, todos nós somos chamados a sair da escravidão do nosso egoísmo, comodismo e indiferença e, com nosso voto, contribuir para a realização do sonho de uma terra onde o leite da fraternidade e o mel da justiça sejam alimentos presentes em todas as mesas.

PARA REFLETIR...

Salmo 4

Quando te invoco, responde-me, ó Deus, meu defensor!
Na angústia tu me aliviaste: tem piedade de mim, ouve a minha prece!
Ó homens, até quando vocês ultrajarão minha honra, amando o nada e buscando a ilusão?
Saibam que Javé fez maravilhas por seu fiel: Javé ouve quando eu o invoco.
Tremam e não pequem. Reflitam no silêncio do leito.
Ofereçam sacrifícios justos e tenham confiança em Javé.
Muitos dizem: "Quem nos fará ver a felicidade?"
Javé, levanta sobre nós a tua face!
Puseste em meu coração mais alegria do que quando transbordam o trigo e o vinho deles.
Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Javé, me fazes viver tranquilo.